O professor de Musculação do CEPEUSP, Ricardo Palatnic, faz um relato e também um questionamento sobre nossas atividades, em especial atividades físicas, na quarentena, e, aponta a importância de vivermos em estabilidade, tanto fisicamente, como mentalmente.
Boa leitura!
Por que assumi ser pior na quarentena, e melhor!
Calma, gente. Este não é um texto pessimista. É apenas o relato de um profissional da área de Educação Física no seu dia a dia durante a pandemia. Como professor do Cepeusp, aconselho os alunos a terem disciplina, frequência, esforço e dedicação para atingir seus respectivos objetivos e colher os diversos benefícios dos exercícios. Mas foi me vendo como praticante que percebi como esta situação de pandemia bagunçou nossas rotinas e nossas cabeças.
Costumava treinar musculação de quatro a seis vezes por semana, jogar futebol, correr e, às vezes, nadar. Hoje estou acostumado a não fazer nada disso. Acostumado não, (in) conformado com a situação. Volume e intensidade dos exercícios diminuíram drasticamente devido à impossibilidade de equipamentos e espaços necessários. Confesso que senti muita culpa por não conseguir manter a forma, confesso que não consegui seguir todas as “lives”, confesso que fiquei duas semanas sem mexer um músculo sequer e…gostei!
Por outro lado, nunca tinha lido tantos livros, assistido a filmes, documentários e séries aleatórios. Nunca tinha dormido tão bem, descobri meu ciclo do sono (8 horas e 18 minutos sem indutor de sono e sem despertador), algo impensável durante a minha então rotina. Desenvolvi habilidades e gostos adormecidos.
Introduzindo um conceito paralelo ao texto, homeostase é a condição de equilíbrio do nosso organismo. Por exemplo e bem simplificadamente, quando realizo um treino de musculação, crio microlesões no tecido muscular. A cicatrização dessas microlesões é uma espécie de fortalecimento para que quando eu receba um estímulo com um novo treino, a musculatura esteja preparada para lidar com a dificuldade. É o corpo sempre querendo saber lidar com as situações.
Quando digo, no meu caso, que assumi ser pior na quarentena em relação às atividades físicas, não quero dizer que abandonei os exercícios por completo. Mas aceitei que seja algo mais leve e descompromissado durante este período. E quando digo, no meu caso, que melhorei meu desenvolvimento em outros campos, não quero dizer que virarei crítico literário ou um “master chef”, mas é bom fazer novas descobertas.
E, por favor, não me venham com a expressão “novo normal”. No nosso caso, uma aula NORMAL é feita de explicação, demonstração, correção e prática. Mas, principalmente, uma aula é interação de professor-aluno, aluno-professor, aluno-aluno. O ambiente, a expectativa, a satisfação e a confiança são muito melhores do que só a replicação de movimentos. Espero muito que passemos dessa crise com nosso corpo e mente em equilíbrio (“homeostase”), cada um fazendo o seu possível seja com exercícios, seja com meditação, seja com trabalho, seja com o que for. E com menos culpa.
Prof. Ricardo Palatnic.