Consciência Corporal- Prof. Christian

O professor do CEPEUSP, Christian Klausener, enfatiza neste texto, a importância do autoconhecimento postural.

O professor de Natação e Canoagem do CEPEUSP, Christian Klausener, disserta, no texto abaixo, sobre a importância do desenvolvimento da consciência corporal: a observação de possíveis desequilíbrios anatômicos, posturais e motores é primordial para a prevenção e terapêutica de eventuais problemas de saúde.

Exercite-se, mas antes se conheça.

Segundo Ivaldo Bertazzo o aparelho locomotor humano, ou o nosso “órgão do movimento”, é o suporte primordial de todas as outras estruturas próprias ao homem (viscerais, psíquicas etc.) e, de acordo com Wallon, D. um desequilíbrio tônico metabólico pode causar desagregação de toda a coordenação quando existe hipertonia dos extensores.   Béziers, M.M afirma que por sua complexidade, o mecanismo de organização da motricidade é frágil. Por várias razões – mecânicas, neurológicas, metabólicas, psicológicas, o homem pode perder essa organização de forma mais ou menos importante. Ou seja, o corpo se modifica ao se mover com o tempo e pode assumir posições sem se deformar e continuar com uma postura anatômica considerada normal, mas considerando a nossa vida social na qual permanecemos por muitas horas ou anos em uma postura sentada, é claro que isso propicia o encurtamento de determinados músculos, mudando, portanto, a nossa postura normal.

                Vale lembrar que a organização mecânica do corpo é gerada pela tensão de todos os músculos do corpo de forma harmônica e que depende do estado de tensão equilibrada entre os músculos flexores e extensores. E no caso do tronco e das articulações dos quadris, são basicamente os abdominais e os espinhais. Mas também temos que considerar os movimentos possíveis de torção na qual existe rotação do tronco e/ou quadril onde existe também uma tensão que deve (ou deveria ser) equilibrada e simétrica, para uma boa postura. No ajuste desse equilíbrio postural estático ou durante a movimentação do corpo no espaço, os músculos transmitem essa tensão entre si, dando início ao trabalho do músculo seguinte daí que falamos em cadeia muscular onde uma região do corpo está atrelada à outra numa ação complexa, onde um flexor começa o trabalho, acontece o estiramento do extensor, mantendo uma organização postural. Estamos sempre num reequilíbrio constante em que a disposição e a forma dos ossos e músculos modificam essas tensões.

É claro que pode haver um desequilíbrio destas tensões e com a ação da gravidade atuando, ocasionará desconforto e dor. E mesmo que isso não esteja acontecendo agora, aparecerá no futuro. Portanto faça sempre exercícios consciente, de forma correta, observando as suas necessidades particulares, bem específica a postura do seu corpo, fortalecendo a musculatura mais fraca e alongando aquela que está encurtada. Também execute sempre os exercícios de forma simétrica, compensando sempre a desigualdade observada no seu corpo. Um exemplo para ficar claro, se você anda com os dedos dos pés apontados para fora (tipo “Charles Chaplin ou 10 para as 2h”), isso vai gerar um apoio errado na sustentação do corpo e um problema maior na articulação do tornozelo, já que essa articulação foi feita para um movimento ântero-posterior e automaticamente rotacionará o joelho apontando erroneamente para fora, causando outros problemas sucessivamente. E se for sua postura, saber que existe basicamente um encurtamento do músculo do glúteo e que deverá fazer exercícios para alongá-lo.  Seguem abaixo, as dicas para uma boa observação corporal:

Observe o seu corpo, na sua postura estática e dinâmica, olhando basicamente a simetria do seu corpo antes de executar quaisquer exercícios ou escolher a modalidade esportiva.  Conhecer-se, observando as limitações nos movimentos, a amplitude articular e o alinhamento dessas articulações, a distribuição do peso do corpo, principalmente nos dois apoios principais, os pés e os quadris. Tudo isso para ir de encontro às  suas necessidades específicas, exercitando-se de forma correta, fortalecendo a musculatura mais fraca e alongando as mais encurtadas, causadas pela sua atitude postural que é bem individual e particular, evitando dores futuras e proporcionando uma saúde apropriada para você.

  • Simetria da sua postura – região cervical: Utilize um fio de prumo ou risque uma linha vertical num espelho. Posicione-se naturalmente (de preferência com menos roupa possível ou com uma roupa justa ao corpo), no plano frontal, de forma que essa linha passe pelo centro da sua cabeça e observe o alinhamento corporal: A linha deve passar bem no centro do queixo e se não for o caso isso já pode demonstrar um desvio ou deslocamento de um eixo central e, portanto, de desequilíbrio corporal, basta procurar os possíveis motivos que podem ser desde um desvio bucal que pode estar associado à estrutura dentária, perda óssea, retirada de dentes etc. e também pode eventualmente ser associada a um desequilíbrio da musculatura da boca pelo excesso de mastigação unilateral. Também é viável ser o resultado de um desequilíbrio muscular do pescoço com tensão maior de um dos lados, mostrando que esses músculos flexores estão mais encurtados e consequentemente, o outro lado estará mais alongado.  Isso já determinaria um trabalho que será necessário realizar. Note que isso não é tão simples, já que o desalinhamento em uma parte, reflete-se em outras regiões, por exemplo, quem tem a boca “torta”, talvez apresente uma escoliose na coluna, também por consequência, já que tudo é uma cadeia muscular. Observe em seguida:
  • Posição do tronco/quadril:              
  • Posição dos joelhos
  • Posição dos pés

E agora faça a mesma coisa olhando no plano horizontal:

  • Alinhamento dos ombros
  • Alinhamento dos quadris
  • Alinhamento dos joelhos
  • Alinhamento das articulações dos tornozelos

Agora se observe de lado, no plano sagital, colocando o o fio de prumo bem no centro da cabeça, passando sobre o ombro: agora você precisará de ajuda de outra pessoa para fotografar a sua postura. E faça as mesmas observações feitas anteriormente.

Observar o seu corpo, na postura dia a dia, basicamente a postura que assume na maior parte do tempo na escola ou no trabalho, isso vai mostrar o encurtamento de determinadas regiões, devido à permanência exagerada por muito tempo. Observe também se está com a postura simétrica. Por exemplo, um aluno que se sentava de lado ao computador, não conseguia olhar diretamente para gente, sem colocar o corpo de lado, a musculatura do pescoço virou um “estilingue” e tracionava a cabeça para o lado, para voltar ao seu estado padrão natural. Imaginem essa pessoa caminhando agora para frente, onde é necessário olhar para onde ir, quais adaptações e obviamente desvios de toda a cadeia músculo-articular devem acontecer.    

   Todas essas observações que faremos devem ser avaliadas também pelo professor de Educação Física para atuar de forma consciente, com proposta de melhorar a saúde dos seus alunos, mas é muito importante cada um se conhecer e sempre estar atento na execução de alongamentos e/ou fortalecimento muscular, executando os exercícios de forma equilibrada, e, reconhecendo a musculatura enfraquecida, impedir os desvios, procurando uma execução simétrica e compensatória. Também conhecer alguns exercícios específicos compensatórios e também fazer algumas repetições a mais, do lado deficitário, caso seja necessário.

Observar o seu corpo enquanto executa alguns movimentos específicos: observe se seus movimentos têm limitações, por exemplo, incline o tronco para frente e com a ponta dos dedos, tente encostá-los no chão. Caso consiga, ótimo, mas se não conseguir, esteja atento, pois isso já determina um encurtamento e consequentemente uma falta de mobilidade e com o tempo também modificará a sua postura natural. Essa limitação indica um possível encurtamento de toda a região posterior do corpo que são basicamente os músculos posteriores das pernas, os glúteos e a musculatura da região lombar.   

Referência:

BÉZIERS M.M; PIRET S. A coordenação motora: aspecto mecânico da organização psicomotora do homem. São Paulo: Summus Editorial, 1992.

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