Marcos Rojo *
O termo qualidade de vida nos faz pensar em um conjunto de ações que deverão promover saúde física, saúde mental e um bom relacionamento entre as pessoas.
Tenho observado que este conjunto de ações varia de acordo com a cultura e a época. Desta forma, qualidade de vida, já significou um bom equilíbrio entre o tempo que dispomos para o trabalho e para o lazer; um bom equilíbrio entre ganhos e gastos financeiros; tempo para a prática de exercícios e cuidados com a alimentação, entre outras coisas. Mas existem pessoas que têm tudo isto, e ainda assim, continuam indo ao terapeuta para livrarem-se de suas depressões.
Os meus comentários para a qualidade de vida são baseados no pensamento indiano, especialmente o pensamento antigo, de onde o yoga é proveniente.
Enquanto no ocidente estamos presos às ideias do “quanto” e do “o quê”, o oriental está muito mais envolvido com o “como”. Ou seja: se vamos a um nutricionista, nossa conversa será sempre relacionada ao “quanto” e ao “que” comer, raramente o “como” se come entrará em questão. Se vamos a um professor de educação física, as orientações provavelmente se referirão a “quais e quantos exercícios” deveremos fazer, raramente se levará em consideração o “como” fazer.
Yoga é a filosofia do “como”. Importa muito mais o “como” você faz do que “o quê” ou o “quanto’ você faz. Por exemplo: a diferença entre deitar e relaxar, está no “como” você se deita. Assim como a diferença entre sentar e meditar está no como você se senta e a diferença entre yoga e ginástica está no como você faz o exercício. Yoga é treino de atitudes através do trabalho com o corpo. Yoga vê o corpo como uma estratégia para a aquisição de experiências importantes no caminho da meditação. Por meio de seus exercícios, treinamos a auto-observação, a estabilidade, o conforto, o relaxamento do esforço, a não violência, a verdade, etc.
Seguindo a mesma linha de pensamento, para a aquisição de qualidade de vida, não importa “o que” você faz, nem mesmo o “quanto” você faz, mas o “como” você faz. Uma pessoa pode trabalhar muito, mas se está motivada, e se envolve com o seu trabalho, estará livre do estresse. O como levamos a vida, o como encaramos nossos problemas é a grande chave para a qualidade de vida.
Temos vários tipos de estímulos, mas o que importa não são os estímulos e sim as nossas reações aos diferentes estímulos. Por exemplo: o trânsito é um estímulo, mas o causador do estresse, é a nossa forma de reagir ao trânsito. Quem mora em São Paulo, fatalmente vai pegar trânsito, esta não é sua escolha, mas você pode escolher entre trânsito com “gastrite” ou trânsito “sem gastrite”. Acreditem: tem gente calma no trânsito. O “como” você reage ao trânsito determina se haverá estresse ou não.
Desta forma, o termo “qualidade de vida” está relacionado com o “como” vivemos. Não é uma questão de ter mais ou menos dinheiro, mas de manter um equilíbrio entre desejos, necessidades e possibilidades. É uma questão de dar valor para o que se tem, dar valor a seu trabalho, sentir-se útil. O antigo pensamento indiano não veria sentido no termo “qualidade de vida”. Facilmente o trocariam por “vida com qualidade”.
Quem dá qualidade e sentido à sua vida é você mesmo. Uma vez, vendo o grande esforço de Madre Tereza de Calcutá para lavar as feridas de um leproso, uma rica senhora lhe diz: – “Madre, eu não faria isto nem por cem mil libras” e a Madre respondeu: – “Lady, eu não faria isto nem por um milhão de libras, eu faço isto por amor”.
Se para muitos ocidentais, qualidade de vida está relacionada a “fazer o que gosta”, o conceito de vida com qualidade, está relacionado como o “gostar do que faz”. Somos nós que determinamos a importância das coisas, nós somos os grandes agentes de nossa própria motivação. É preciso incluir um pouco mais de filosofia nas nossas vidas, é preciso dar sentido às nossas vidas.
Ter boa saúde não é só uma questão de cuidar do corpo e da mente. É preciso cultivar atitudes de respeito e atenção com relação ao outro e ao planeta.
*Professor de Educação Física formado pela USP
*Especializado em Yoga